MARIA CRISTINA BACELAR DE MATTOS
( Brasil – Bahia )
Trabalha em Araujo Florence Empreendimentos Ltda., na função de Assistente de Marketing (empresa de Construção Civil).
Estuda Secretariado Executivo pela Universidade Católica de Salvador (BA).
Participação em coletâneas: Nova Poesia Brasileira — Poetas Brasileiros de Hoje — Escritores Brasileiros I e II — Literatura Brasileira , e é Coordenadora e participante da Coletâneas de Cidades Brasileiras (todas as coletâneas da Shogun e algumas da Crisalis).
Faz xilogravuras nas horas livres.
LÁGRIMAS SERTANEJAS
Na frente da casa de taipa, sob o sol escaldante, uma figura magra,
pálida, encurvada, como aqueles que carregam uma pesada cruz,
tem sobre o colo pendente a cabeça do filho morto.
Moço era velho! e ali estava, minúsculo, franzino, acocorado. Entre os
rasgos da camisa, via-se o peito nu, a pele curtida. Uma mão calosa
alisava a terra árida. A outra mão pousava a testa fria do filho morto.
O rosto macilento, descarnado, tinha a expressão do tempo, em cada
ruga em todas as marcas.
Parecia fitar ora o céu ora a planície de cactos. Dir-se-ia que ele orava
da sua forma humilde sertaneja. E como quem ainda tem forças ergue os olhos encovados para além da soleira da porta: a mesma
lúgubre cena o estremeceu; sobre o leito de tábuas, o filho recém-
nascido, ávido, vivo, sugava o seio nu, duro e frio da mãe morta.
Os olhos miúdos, opacos, brotaram lágrimas que escorrendo pela
face caíram na terra árida. Lágrimas de dor salgadas como o sertão,
tristes como a seca.
LITERATURA BRASILEIRA. Capa e Coordenação editorial: Christina Oiticica. Rio de Janeiro; Shogun Editorial, 1986. 97 p. No. 10 371
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
QUEDA
Umas poucas palavras
e foi como cair no abismo
— cheio de incontáveis urnas,
esquifes —
para além da vida...
Resignadas as mãos prostaram-se
ao lado do corpo,
rijo...
Imóveis elas teceram
incontáveis gestos...
O peito arfou
e da boca entreaberta, um soluço
dos olhos espantados lágrimas
que desceram pela face lisa.
Esse foi o único sinal de vida
Depois ergueu um olhar para o céu
numa tentativa derradeira
e como quem busca a esperança perdida
fitou uma estrela
Era uma estrela fenecida...
OCASO
Quando toda a neve tiver caído por sobre tuas têmporas
e o frio dos tempos estiver enrijecendo teus músculos já frouxos
e em teu antigo rosto estiver exposto todos os caminhos que não
[percorremos
Tu, pálida imagem refletida nesse espelho convexo da vida,
despertará as forças que ainda te restam.
E, num arroubo, como quem vê desesperado chegar ao fim,
soltará as amarras antigas que te prenderam decênios,
correndo em direção a quem te fale de mim.
Este, que foi testemunha de minha solidão e desgosto
num gesto pateticamente louco, rindo com mistério,
repetindo meu nome em voz alta,
apontará com seus dedos longo o cemitério;
minha derradeira morada.
Lá sorrindo meu rosto retratado.
E a inscrição sob meu rosto te dirá no metal da lápide fria:
Aqui jaz tua Cristina, Maria.
*
VEJA e LEIA outros poetas da BAHIA em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html
Página publicada em abril de 2025.
|